quinta-feira, 15 de julho de 2010

IX

Hora de levantar, são sete horas e dezessete minutos... Hora de levantar, são sete horas e dezessete minutos... Hora de levantar, são sete horas e dezessete minutos...

Mark detestava aquela voz, mas aquele tom irritante e repetitivo era um fator que acabava o ajudando a acordar mais depressa, por isso continuava pondo seu celular para despertar. Que dia da semana era mesmo? Poxa, estava realmente perdido no tempo... Tentou recordar das aulas que tivera no dia anterior. Não conseguiu. Tentou recordar de qualquer coisa que tivesse feito no dia anterior. Não conseguiu.

Cogitou continuar dormindo e não ir ao colégio. A tentação era grande, no entanto, suas faltas já estavam quase estourando e não podia correr o risco de repetir o ano. Se soubesse que dia era, saberia as aulas que teria e poderia fazer alguns cálculos... Não. Levantou depressa. Se ficasse pensando demais, acabaria faltando.

Seu quarto estava mesmo uma bagunça! Qualquer hora teria que dar um jeito nisso, mal conseguia encontrar um par de tênis. De qualquer forma, preferia assim às arrumações de sua mãe, ela guardava suas coisas em lugares que ele nunca conseguia encontrar quando precisava.

Foi ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, não tomaria banho. Raramente acordava com disposição para tomar banho. Raramente acordava com disposição para qualquer coisa. Achou estranho, havia escovas de dente novas, todas ainda embaladas. Sua escova antiga não estava nas melhores condições, mas geralmente tinha que lembrar umas mil vezes sua mãe de que precisava de outra até ela comprar uma. Aliás, tudo no banheiro estava parecendo novo, talvez uma faxina geral houvesse sido feita.

Desceu as escadas que davam acesso ao andar de baixo e, chegando à cozinha, notou algo ainda mais estranho: o café não estava pronto; seu pai não estava à mesa lendo jornal, reclamando de algo da sessão de política e comemorando algo da sessão de esportes, ou o inverso, e sua mãe não estava andando de um lado para o outro com pratos e xícaras, perguntando se Mark não queria mais um biscoito ou uma fatia de bolo, ou talvez mais um pouco de achocolatado. Onde estava todo mundo?! Eles nunca perdiam a hora. Certamente algo estava errado.

Mark não costumava se impressionar facilmente, sempre achou que as pessoas costumam fazer muito alarde por pouca coisa, no entanto, tinha um pressentimento muito estranho em relação àquela situação. Resolveu beber um copo de refrigerante ou de leite antes tentar descobrir o que estava acontecendo, não que estivesse com sede, apenas para gastar tempo e tomar coragem. Quando abriu a geladeira, uma nova surpresa, estava completamente vazia. Talvez a sua mãe houvesse a limpado na noite anterior e não tivesse recolocado as coisas novamente em seus lugares. Ainda assim, não havia nada sobre o balcão ou sobre a pia, nenhuma embalagem, jarra de suco ou caixa de leite... Abriu os armários. Igualmente vazios.

Não poderia continuar adiando aquilo. Com o coração ligeiramente disparado, dirigiu-se ao quarto de seus pais. A porta estava encostada, abriu-a de uma vez e entrou sem pensar muito. A surpresa foi tamanha que, por um momento, ficou sem ação. Não havia ninguém no quarto. “OK – pensou Mark -, deve ser uma porcaria de um sonho...”. De vez em quando, tinha uns sonhos malucos. Uma vez, sonhara que estava tomando café da manhã com seus pais quando várias vacas malhadas começaram a entrar na cozinha. Como acontece às vezes nos sonhos, encararam o episódio com a maior naturalidade e continuaram tomando café.

Sim, deveria estar tendo mais um sonho absurdo. Resolveu sentar-se à mesa e esperar que o tempo passasse. Mais cedo ou mais tarde, acabaria acordando. Enquanto esperava, sentia uma ansiedade cada vez maior. “E se não for...”. Sequer ousou completar o pensamento. Quanto mais o tempo passava, mais Mark achava que a temida possibilidade de estar acordado poderia ser verdadeira.

De repente, teve uma idéia. Telefonaria para o Derick, poderia perguntar diretamente a ele se as coisas estavam normais ou algo do tipo. Não sabia direito por que, mas travar diálogo com alguém lhe pareceu uma boa alternativa para esclarecer um pouco os fatos. Apesar de haver pensado que, mesmo se fosse um sonho, Derick poderia agir naturalmente e dizer que tudo estava em perfeita ordem.

Tirou o telefone do gancho, no entanto, confirmando a teoria de que a situação sempre pode piorar, estava mudo. A única saída que restava era falar com alguém da vizinhança. Que assunto poderia puxar? Nunca conversava com nenhum vizinho. Pensava numa maneira razoável de dar início a um diálogo quando abriu a porta da frente de sua casa e saiu. Chegou a dar três passos para fora até se dar conta... Seja lá que lugar era aquele, não era sua cidade.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

VIII


- Este, Sr. McCarthy, é Íkaros II... mas não se preocupe, ao contrário de seu antecessor mitológico, que a propósito lhe rendeu o nome, suas asas não são feitas de cera – concluiu Sr. Baker caindo em gargalhada.

Mark sempre se sentiu um pouco constrangido ao ter que rir de tiradas horríveis como esta.

- Mas... o que é isso afinal?

- Em linhas gerais, é um instrumento que permite estudar e manipular partículas subatômicas. É, de longe, o maior investimento do CPTA, em termos de dedicação de recursos financeiros e humanos. Há dois anos e oito meses que está em fase de testes. E os resultados, bem, os resultados superaram nossas expectativas.

- Mas o que ele faz afinal? – perguntou Mark, ainda olhando admirado para a máquina.

Sr. Baker mudou bruscamente o semblante, dissipando o riso e franzindo um pouco o cenho.

- Esta é uma pergunta delicada, Sr. McCarthy, porque, como lhe disse, primamos pelo sigilo, e o senhor ainda não faz parte de nossa equipe. Ao mesmo tempo, é uma pergunta difícil de responder, por toda a complexidade científica que envolve...

- Entendo, não há problema.

Mark preferiu desistir logo de saber o que a máquina fazia do que ficar ouvindo toda aquela baboseira.

- No entanto, bem, no entanto, eu jamais mostraria Íkaros para o senhor se sua contratação não fosse praticamente certa. Posso lhe dizer, em linhas gerais, de maneira extremamente simplista, que uma das metas do projeto é que Ìkaros venha a fazer algo parecido com aquilo que as pessoas chamam de teletransporte. Já existe o “teletransporte quântico”, mas que transporta apenas informações. Nós pensamos em ir além. Enfim, esta é apenas uma das possíveis aplicações de Ìkaros.

Mark olhava para a máquina ainda impressionado. Talvez fosse possível dizer que nem mesmo havia escutado o que senhor Baker dissera, não fosse por sua fala:

- Teletransporte... como nos filmes e séries de ficção científica?

Sr. Baker soltou um curto riso espontâneo e completou:

- Na prática as coisas são um pouco diferentes de Hollywood, mas os objetivos são quase os mesmos.

Apesar de estar impressionado com a aparência da máquina, Mark não conseguia acreditar que ela fosse realmente capaz de teletransportar objetos. Essa história parecia ficcional demais, talvez até fosse o objetivo dos cientistas envolvidos, de qualquer forma, ele tinha suas dúvidas de que isso pudesse acontecer.

- Agora, Sr. McCarthy, infelizmente não poderei mostrar o resto das dependências para o senhor, tenho um compromisso inadiável. Mas faço questão de, numa próxima ocasião, lhe mostrar pessoalmente Íkaros e o resto de nossas instalações com mais tempo.

Mark deixou o CPTA relativamente contente. Pelo menos, aquele havia sido um dia diferente. Não agüentava mais aquela sensação de que seus dias se repetiam ao longo da semana, e de que as semanas se repetiam ao longo dos meses... E, também, finalmente, ao que tudo indicava, receberia um salário. E muito maior do que imaginara. Sempre teve a sensação de que nunca seria capaz de ganhar dinheiro, era um alívio perceber que aparentemente estava enganado. Não que quisesse comprar um monte de coisas igual à maioria das pessoas, mas sabia que seus pais deixariam de pegar no seu pé a partir do momento que ganhasse uma grana daquelas, sem falar que há meses queria comprar um amplificador novo para sua guitarra.

Colocou os fones nos ouvidos e iniciou o caminho de volta. A música realmente facilitava as coisas. As pessoas no metrô sempre o deixavam um pouco deprimido; aquele ar de cansaço parecia ser contagioso. Temia se tornar igual a elas, acabar num emprego normal que não gostasse; levar uma vida normal que não gostasse; assistir a um programa estúpido na TV antes de cair no sono. Temia já ser igual a elas.

Parou de pensar nisso. Começou a cantarolar junto com a música de seu mp3. Começou a pensar em Lisa, era estranho pensar nela. Queria que ela o tirasse daquela porcaria de cidade; ele faria o que fosse preciso para cuidar dela se tivesse uma chance. Nem ligaria se tivesse que aturar um trabalho idiota. Achava a coisa toda meio estúpida porque nem a conhecia de verdade, de qualquer forma, gostava dela. Gostava mesmo. Sabia que a maioria das pessoas não compreenderia, mas já não dava importância a isso; a maioria das pessoas não compreendia várias coisas. O que o deixava triste, era que, no fundo, sabia que aquele era só mais um dos seus sonhos que nunca se tornariam realidade, assim como ter uma banda de sucesso. Não que quisesse ter uma banda apenas para ganhar um monte de dinheiro ou ser famoso. Acontece que desde quando podia recordar era maluco por música, e achava que compunha bem, apesar de ninguém reconhecer isso. Vez ou outra, Derick dava o braço a torcer e dizia algo do tipo: “É... esse riff até que ficou legalzinho”; mas nada além disso. Também não tinha mostrado suas músicas para muitas pessoas. Uma vez tocou num festival do colégio. O pessoal não deu sinal de ter gostado nem de não ter. Uma meia dúzia de amigos disse que ele tinha se saído bem. De qualquer forma, o que realmente queria, era poder ganhar a vida com a música, sem precisar passar o dia todo trabalhando em algo que lhe parecesse deprimente. Pensava nessas coisas quando passou em frente a uma loja de pneus e se sentiu profundamente triste. Lembrava que, desde a infância, passava em frente àquela loja, e teve a impressão de que sempre acabaria passando por ali, que nunca sairia daquela porcaria de lugar. Sentiu vontade de chorar. Às vezes, sentia essas vontades repentinas de chorar, mas sempre acabava conseguindo controlar o choro.

Mal colocou o pé para dentro de casa, já foi abordado por sua mãe:

- Oi, filho, até que foi rápido.

- Faz umas cinco horas que saí de casa, mãe.

- Não exagera. Quer que eu prepare alguma coisa pra você comer?

- Não, estou sem fome.

Mark entrou em seu quarto e tirou o tênis e a blusa. Estava com calor pelo caminho de volta todo, mas preferia passar calor a ficar carregando a blusa. Sua mãe bateu na porta e entrou:

- Ligaram atrás de você.

- Derick?

Não que isso deixasse Mark muito feliz, mas, geralmente, apenas Derick ligava.

- Também. Ele pediu pra você ligar pra ele quando chegasse. E uma outra pessoa, voz de homem. Quando perguntei se queria deixar recado, caiu a ligação ou desligou.

- OK, outra hora ligo pra ele.

Quem seria essa outra pessoa, pensou Mark. Achou que deveria ser o pessoal do CPTA, talvez dizendo que não precisavam mais dele, que não seria mais contratado, ou... ou... não sabe por que, lembrou daquele sujeito estranho que lhe mandou um bilhete na lanchonete.

- Mas, e então, não vai me dizer como foi?

Ele sabia que sua mãe queria chegar nesse ponto desde o princípio. Estava esperando que ele se manifestasse espontaneamente, mas ele nunca se manifestava. O negócio já era quase um ritual.

- Então, parece que tenho chances de ser contratado, mas não ficou nada definido.

- Mark! Parabéns, meu filho! – disse sua mãe, lhe dando um abraço e um beijo.

- Calma, mãe. Eu só disse que tenho uma chance, só isso.

Mark não queria criar muitas expectativas em sua mãe, principalmente depois da tal ligação.

- Vai dar tudo certo sim, tenho certeza.

Pronto, já não tinha mais volta. Sua mãe já estava cheia de expectativas e ele cheio de pressão sobre si.

- Finalmente você vai poder pagar um curso de língua estrangeira e trocar de computador.

- Eu não quero fazer nenhum curso de língua estrangeira, mãe.

- Vou preparar algo para você comer – concluiu ela, ignorando-lhe a observação.

Mark conhecia sua mãe. Sabia que não adiantava dizer que não queria fazer curso algum, ou que não estava com fome. No final das contas, quase sempre acabava fazendo a vontade dela. Percebia que ela era um tanto insatisfeita com a vida que levava, apesar de tentar disfarçar isso. O filho era sua grande esperança e sua válvula de escape, algo do tipo, “tudo bem... comigo foi assim, mas com meu filho será diferente”. O problema é que este tipo de postura resultava em zelo e expectativa excessivos e, de vez em quando, Mark se sentia um pouco sufocado.

Estava esperando seu computador ligar, entraria no messenger para descobrir o que Derick queria; provavelmente queria que jogasse algum jogo online novo que havia descoberto, ou perguntar sobre a data de entrega de algum trabalho do colégio... Mark nunca sabia as datas de provas ou de entrega de trabalho, de qualquer forma, Derick sempre ligava perguntando. Os minutos que seu antigo computador levava para inicializar pareciam horas, e a espera já deixava Mark impaciente, quando o telefone tocou.

- Deixa que eu atendo! – gritou abrindo a porta de seu quarto. – Deve ser o Derick.

Atravessou a sala e tirou o telefone do gancho:

- Alô?

- Mark... Mark McCarthy? – disse uma voz grave, num tom próximo ao sussurro.

- Sim....

- Precisamos nos encontrar. Esta linha não é segura. Preste atenção, não confie no CPTA. Você precisa saber a verdade sobre o projeto Íka...

De repente, a linha ficou muda.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

VII


Um pouco tonto, Mark senta-se na cama. Tenta recordar de algo que possa situá-lo, mas parece haver uma grande lacuna em sua memória. Levanta-se e anda em direção à porta. Ao apanhar a maçaneta, um pensamento lhe ocorre gerando algum receio: “E se estiver trancada...”. Destrancada. Mal há tempo para que a tensão seja aliviada e a ansiedade retorna. O que pode haver do outro lado? Evita refletir muito e a abre de uma vez.

Um corredor relativamente estreito com várias portas de ambos os lados. A mesma luz azulada iluminando o ambiente. Mark avança um pouco e três figuras saem de uma das portas. Não consegue vê-las direito, apenas suas silhuetas. Congela. Não sabe se deve retroceder ou caminhar ao seu encontro.

- Está tudo bem. Estamos aqui para ajudar.

Estão cada vez mais perto; se deve fugir, o momento é agora. De qualquer maneira, o que poderia fazer? Poderia voltar para o quarto e trancar a porta. Mas provavelmente deviam ter a chave. Agora estão próximas o suficiente para que Mark possa distingui-las melhor, e aquilo que vê o impressiona. Não sabe se estão envoltas por algum tipo de vestimenta especial ou se possuem uma pele completamente branca semelhante a uma espécie de látex.

- Não se assuste, senhor, estas roupas _ diz aquele que vai mais à frente, prevendo o pensamento de Mark _ são para evitar contaminações. Apenas uma precaução. Para proteger a nós e ao senhor.

- E por que haveria algum risco de contaminação?

- Devido à experiência, senhor, mas, como eu disse, é apenas uma precaução.

- Parem! – disse Mark estendendo as mãos para frente. – Nada disso faz sentido. Que experiência?

- Está tudo bem. É natural que não se recorde. Mas assim que fizermos alguns exames, poderemos explicar melhor as coisas.

Mark recuou um pouco à medida que os sujeitos avançavam.

- OK... está certo – disse baixando os braços. – Pelo jeito, não adianta mesmo tentar resistir.

Quando estavam as uns três passos de distância, partiu correndo, usando a explosão muscular de suas pernas e se chocando contra o indivíduo que vinha ao centro e o que estava a esquerda deste. Após o contato, desequilibrou-se um pouco, mas não chegou a cair; ao contrário dos outros dois que, pegos desprevenidos, tombaram ao chão.

É, enfim as incontáveis horas de condicionamento físico no CPTA haviam se mostrado úteis. Desceu em disparada a escadaria de madeira que dava acesso ao andar debaixo e, para o seu alívio, não encontrou mais ninguém. Ouvia o barulho dos passos apressados pelas escadas atrás de si, mas havia conseguido abrir uma vantagem considerável em relação aos seus perseguidores.

A porta que dava acesso ao jardim estava aberta. Mark não sabia o que poderia esperá-lo do lado de fora, talvez mais sujeitos como aqueles, ou cães, ou muros altos e portões trancados. De qualquer forma, a primeira etapa era deixar o casarão, e isso não parecia difícil. Estava quase alcançando a porta quando tombou desacordado ao chão sem motivo aparente.

sábado, 17 de abril de 2010

VI

- Boa tarde, Sr. McCarthy. Sente-se, por favor.

Sr. Baker tinha olhos acinzentados, um tanto cerrados, que transmitiam um tipo de determinação e indiferença. Não uma indiferença arrogante... apenas um ar meio impessoal, estilo general que não mede esforços para atingir seus objetivos. Mark podia jurar que ele havia sido militar um dia. Tinha os cabelos grisalhos, um pouco mais escuros perto da fronte, e era um tanto corpulento, sem chegar a ser gordo. Seu tom de voz era moderado, sóbrio, mas dava a impressão de que poderia explodir a qualquer momento, se um soldado relaxado não polisse direito os coturnos.

- Boa tarde. Acho que o senhor já deve imaginar, eu vim falar a respeito do estágio.

- Sim, claro – fez uma pausa e sorveu um gole de seu chá. – Tenho uma proposta a lhe fazer, Sr. McCarthy. Seus resultados realmente me surpreenderam. Como sabe, o teste que respondeu pela internet possuía um tempo para ser respondido, e o Sr. foi quem teve o maior número de acertos no menor espaço de tempo. Gostaria que respondesse a um outro teste teórico e também que se submetesse a alguns testes físicos. Caso seja aprovado, o Sr. fará parte da nossa equipe de trabalho como membro efetivo, não como estagiário, e receberá como pagamento um salário cinco vezes maior do que aquele proposto inicialmente. O que me diz?

- Nossa, eu... eu estou um pouco surpreso. Sem dúvida, seria um prazer trabalhar aqui. Poxa, não imaginava que eu tivesse me saído tão bem...

- Meus parabéns, Sr. McCarthy. Sem dúvidas o senhor está acima da média _ disse Sr. Baker, sem apresentar nenhuma leve mudança na expressão.

- Mas o que exatamente eu devo fazer? Eu havia recebido um e-mail falando sobre esta vaga de estágio; mas não consigo recordar como era o nome do cargo...

- Como lhe disse, não se trata mais de um estágio, portanto, o senhor deve desconsiderar algumas coisas. Veja, Sr. McCarthy, aqui, no CPTA, trabalhamos com o desenvolvimento da mais alta tecnologia. Desenvolvemos produtos que somente chegarão ao mercado daqui a décadas, ou que nem mesmo serão comercializados um dia. Ou seja, aquilo que o senhor vir e ouvir aqui não deve ser comentado com ninguém, nem com a sua mãe, seu melhor amigo ou mesmo com o seu cachorro.

- Eu não tenho cachorro.

Por um instante, Sr. Baker fulminou-o com um olhar que pareceu lhe queimar sobre a pele. Mark teve certeza de que seu rosto havia ficado vermelho e se sentiu ainda mais constrangido por isso.

- Desculpe. O senhor pode ficar tranqüilo, eu nem tenho muitos amigos mesmo. De qualquer forma, não sou do tipo que sai por aí falando pelos cotovelos, muito menos a respeito do que não deve ser dito.

- Bem, como eu dizia, o senhor terá que assinar um compromisso de sigilo, dentre outras coisas.

- Sim, claro, sem problema. Perdoe a minha insistência, mas é que fiquei um pouco curioso, qual será mesmo a minha função?

- O senhor será aquilo que chamamos de Agente de Testes. Experimentará algumas tecnologias sob diferentes condições de ambiente... Óbvio que sempre de maneira segura, mas tudo estará explicado com maior riqueza de detalhes no contrato.

- Parece interessante...

Na realidade, a única coisa em que Mark conseguia pensar era naquilo que o Sr. Baker havia dito antes “um salário cinco vezes maior do que o proposto inicialmente”.

- Há algo que desejo lhe mostrar, Sr. McCarthy, para que tenha uma idéia das dimensões de nossos projetos. Depois daremos seqüência à parte burocrática da contratação.

Mark pensou em perguntar se não teria que fazer os outros testes antes de ser contratado; mas achou melhor deixar as coisas como estavam. Quando se dá uma sorte dessas, não se fica fazendo um monte de perguntas. Esse negócio de “Agente de Testes” lhe soou meio estranho, vago demais. Concluiu que devia ser paranóia sua, sempre desconfiava de tudo. Pelo menos uma vez na vida, todos dão sorte, finalmente havia chegado o seu dia.

- Acompanhe-me, por favor.

Sr. Baker seguiu em passos rápidos e ritmados, quase uma marcha cortando o corredor. Mark se esforçava para acompanhá-lo e sentiu-se aliviado quando chegaram ao elevador. Tentou disfarçar sua respiração um pouco ofegante, mas não foi muito bem sucedido.

- E então, Sr. McCarthy, o que senhor faz no momento? Apenas estuda?

- Sim... _ respondeu Mark, entrecortando sua fala para respirar. - ... meus pais sempre acharam.... melhor... que me dedicasse somente aos estudos.

Na verdade, já fazia cerca de um ano que sua mãe o pressionava para arranjar algum trabalho.

- Hum, uma postura muito sóbria da parte deles. De qualquer forma, lhe garanto que sua atividade aqui não o atrapalhará nenhum pouco em seus estudos. Pelo contrário, irá contribuir para o desenvolvimento do seu raciocínio. O Sr. pratica algum esporte, senhor McCarthy?

- Não... - respondeu Mark, um pouco mais recuperado. – Só durante as aulas de Educação Física.

Lembrou que teria que convencer os seus pais a arranjarem um atestado médico para abonar suas faltas em Educação Física, já devia fazer um mês que não assistia a uma aula sequer e, quando assistia, geralmente ficava jogando tênis de mesa com Derick. O sacana tinha um saque difícil de se pegar, mas não agüentava muito tempo trocando bola. O que fazia dele um adversário realmente difícil é que sempre roubava na hora de marcar os pontos. De qualquer forma, Mark preferia aceitar suas trapaças do que ficar meia hora discutindo.

- Creio que precisaremos trabalhar um pouco seu condicionamento físico. Mas, na sua idade, isso é fácil, dentro de alguns meses será praticamente um atleta.

A idéia não agradava Mark nenhum pouco, mas tentava se concentrar no salário, “5 vezes maior do que o proposto no início... 5 vezes!”.

- Isso que vou lhe mostrar, Sr. McCarthy, é algo que pode mudar a História da humanidade, literalmente. No momento, não posso lhe dar detalhes do que se trata, mas faço questão que senhor veja, para que tenha uma vaga idéia da grandiosidade do projeto que, eventualmente, o senhor poderá ter o privilégio de participar. Simplesmente por estarmos aqui, e termos a oportunidade de visualizar algo dessa magnitude, podemos dizer que temos muita sorte... Lembre-se, quando estiver fora daqui, o senhor deve “esquecer” de tudo aquilo que viu. Aliás, mesmo aqui dentro do CPTA, o senhor não deve comentar a respeito de qualquer pesquisa ou experimento a menos que seja com os membros da equipe envolvida e no momento adequado, o senhor me compreende?

- Perfeitamente, Sr. Baker. Como lhe disse, não precisa se preocupar quanto a isso.

Mark detestava que ficassem lhe repetindo a mesma coisa. Não era nenhum idiota, uma vez bastava quando se tratava de algo importante. Achava terrível quando sua mãe ficava lhe recordando a cada cinco minutos de algum compromisso. Como a própria entrevista no CPTA, por exemplo. Ela deve ter lhe falado pelo menos umas dez vezes que ele acabaria se atrasando.

Sr. Baker digitou sua senha num painel que havia ao lado da porta de metal, em seguida, colocou seu polegar direito no leitor óptico. Mark pôde ler a frase “acesso permitido” num pequeno monitor de plasma e então a porta se abriu. Ao invés de dar acesso ao tal experimento revolucionário que Sr. Baker proclamara, viram-se diante de outra porta, idêntica a primeira.

- Segurança é uma de nossas prioridades – disse Sr. Baker enquanto digitava novamente sua senha, no entanto, desta vez, aproximou seu olho direito do leitor óptico para que sua retina fosse reconhecida.

“Esses sujeitos gostam mesmo dessas frescurices tecnológicas estilo serviço secreto. Aposto que investem nisso só para impressionar”, pensou Mark.

- Prepare-se para ver a coisa mais incrível que provavelmente o senhor terá a oportunidade de ver em toda a sua vida, Sr. McCarthy.

A segunda porta se abriu. Mark não tinha idéia do que era aquilo que avistou, mas, sem dúvida, era algo grandioso.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

V


Mark acorda aos poucos. Já despertou do sono, mas deixa-se deitado na mesma posição por mais um tempo. Vira-se de lado e abraça um dos travesseiros. De repente, ocorre-lhe se não estaria atrasado para a aula. Reflete melhor e conclui que, se o despertador não tocou e sua mãe não lhe chamou, era porque deveria ser final de semana. Abre os olhos, deixa-os abertos por alguns segundos e torna a fechá-los. Suas pálpebras parecem pesadas e é muito agradável ceder a tal peso.

Há tanto conforto em ficar daquele jeito que poderia deixar-se assim para sempre. Abre os olhos novamente, mas, desta vez, algo faz com que o sono seja afastado de maneira brusca. Não reconheceu o quarto em que estava. Definitivamente não era o seu. Aquelas dimensões... a altura do teto... aquilo mais parecia um salão.

Afastou os lençóis e levantou-se. Uma fraca luz ambiente, ligeiramente azulada, emanava de lâmpadas incrustadas no teto. Notou alguns móveis espalhados pela peça, mas não lhes dedicou muita atenção. A prioridade era se localizar, saber que lugar era aquele afinal de contas. Uma nova surpresa. Pensou em abrir as cortinas para olhar para fora, mas, bastou que pensasse em abri-las para que se abrissem sozinhas, como num passe de mágicas. Formulou mentalmente as seguintes questões de maneira concisa: “O que está acontecendo? Que lugar é este?”. E, de maneira aparentemente inexplicável, as respostas surgiram em sua cabeça: “Não há dados”; “Você está na residência ALX – 3759; cidade Alfa Maior”.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

IV

Três dias depois, Mark foi convocado, através de uma ligação telefônica, a uma entrevista no CPTA (Centro de Pesquisas Tecnológicas Avançadas), que ficava do outro lado da cidade. Provavelmente, seria o momento de decidir se ficaria com a vaga do estágio ou não. Era uma pequena viagem. Teria que apanhar três metrôs e andar mais uns dois quilômetros a pé. Mas o salário valia o custo-benefício. Bem, na realidade, se seus pais não estivessem passando por uma crise financeira, nem teria procurado porcaria de estágio nenhum. Ficaria o dia todo praticando com sua guitarra e tentando compor algo que prestasse. Tarefa que não achava das mais fáceis, tendo em vista que não conseguia gostar de suas composições por muito tempo. Como nem sempre se pode fazer aquilo que se quer (alguns diriam: “como geralmente não se pode fazer aquilo que se quer”), Mark se certificou de que a bateria de seu mp3 estava carregada e partiu rumo a tal entrevista, com ânimo de quem torce pra que algum meteoro, de proporções consideráveis, aponte no horizonte.

O prédio era realmente impressionante. Consideravelmente alto e, sem dúvida, havia sido projetado para passar uma idéia de modernidade. A construção era espiralada, como se tentasse imitar filetes de DNA, inteira revestida por aço e vidro reluzentes, que davam a impressão de terem sido recém polidos. Pelo jardim, viam-se dispostas algumas reproduções de modelos atômicos, desde os clássicos até os mais atuais. Mark deu uma rápida olhada neles, sempre achou legais esses sistemas orbitais. Mas estava um pouco cansado e imaginar as conversas que, em breve, teria que travar, inibia um pouco sua curiosidade.

Subiu uma meia dúzia de degraus e um sensor fez com que a porta de vidros abrisse para a sua entrada. Avistou uma secretária olhando compenetrada para a tela de seu computador. Cabelo preso, óculos, uniforme impecável... Puxa, não sabia ao certo por que, mas as secretárias o deprimiam.

- Em que posso ajudá-lo?

- Oi, meu nome é Mark McCarthy. Eu vim pra uma entrevista, ou algo assim.

- Ah, claro. Sr. McCarthy, o Sr. Baker, diretor do Departamento de Pesquisas Subatômicas, está a sua espera. Basta o senhor seguir reto e apanhar o elevador. A sala dele fica no 5º andar. Assim que o senhor desembarcar, já encontrará a secretária, basta dizer quem é o senhor que o diretor logo o atenderá.

- Han... OK, obrigado.

Mark se sentiu completamente perdido. Sempre achou que soava estranho quando o chamavam de “senhor”, mas o que o deixou realmente intrigado foi aquela história de que o diretor estava a sua espera. Concluiu que deveria ser maneira de dizer, vários candidatos deveriam ter sido pré-selecionados pra tal entrevista.

Um sujeito uniformizado o cumprimenta e aperta o botão para o elevador descer. Mark se pergunta se o trabalho dele é só fazer isso o dia todo. Pensa que um trabalho assim até pode ser legal por um tempo, mas que depois você deve morrer de tédio e preferir qualquer coisa a ficar apertando uma porcaria de botão e cumprimentando todo o tipo de idiota forçando um sorriso simpático.

O elevador chega, Mark entra e um outro sujeito o cumprimenta, com o mesmo uniforme e o mesmo sorriso. Quase um Déjà vu. Pergunta-se quanto aqueles sujeitos devem ganhar para exercer um trabalho desses. Pergunta-se se seria capaz de manter um sorriso idiota por um salário razoável. Conclui que dependeria do quanto estivesse precisando da grana. Conclui que tudo depende da necessidade.

- O 5, por favor.

O sujeito aperta o botão e puxa um assunto por conveniência:

- Que tal este clima... Ontem tive que sair de casa encasacado; hoje estou derretendo. Eu te digo, antigamente não era assim. Não mesmo.

- É, deve ser este negócio de aquecimento global...

Mark não acreditou que tinha dito aquilo. Sentiu-se deprimido por ter feito aquele comentário. E, de repente, sentiu raiva daquele sujeito por tê-lo induzido àquele tipo de diálogo idiota.

- Por isso te digo, ainda compro meu rancho e vou viver criando trutas.

O elevador pára, a porta se abre e Mark sente uma indescritível sensação de alívio. Salta fora sem mesmo se despedir. Não queria ser antipático, afinal, era só um pobre coitado que precisava falar de seus planos, que, muito provavelmente, nunca se concretizariam, mas a sensação que tinha era de que morreria asfixiado se ficasse mais um segundo naquele elevador.

Hora de falar com a secretária. Mark estava começando a se arrepender de ter ido ali. Detestava diálogos burocráticos e formais. De uma coisa não tinha dúvidas, desceria pelas escadas.

- Boa tarde, em que posso ajudá-lo?

- Boa tarde. Eu preciso falar com o Sr. Baker, a respeito de uma entrevista. Acho que se trata de um estágio ou algo assim.

- Estágio?! Desculpe, mas o Sr. deve ter se confundido. Para falar sobre estágios o Sr. deve se dirigir ao R. H., no térreo.

- Então, no térreo uma moça me disse que eu deveria vir aqui.

- Hum... estranho... qual o seu nome?

- Mark... Mark McCarthy.

- Ah, claro, Sr. McCarthy. Por favor, sente-se numa dessas poltronas. O Sr. Baker logo o atenderá.

Mark estava se sentindo cada vez mais confuso com aquele tratamento, parecia até que ele era um “figurão”, destes que nem sabe mais quanta grana tem no banco, e que todo mundo fica puxando o saco o tempo todo, trazendo bandejas com bebidas geladas e tira-gostos.

Preferiu nem pensar mais sobre isso. Talvez fosse apenas impressão sua, era melhor esperar para ver o que aconteceria na entrevista. Deu uma breve olhada nas revistas que estavam dispostas sobre a mesa de centro. Alguns periódicos científicos; duas ou três revistas do ramo administrativo; mais umas duas revistas de fofoca sobre a vida dos famosos e uma de moda feminina. Achou aquilo uma porcaria, era frustrante não poder nem ler algo para passar o tempo, mas concluiu que a escolha daquele material não deveria ser à toa. As pessoas que provavelmente se sentavam onde ele estava deveriam ser, em sua maioria, cientistas que procuravam o Sr. Baker para discutir algum tema, projeto ou coisa que o valha; magnatas (querendo bancar os inteligentes, ou altruístas ou sabe-se lá o quê) dispostos a custear algum projeto; e, por fim, as mulheres destes magnatas. Mark sorriu, definitivamente nunca encontraria uma revista sobre rock ou jogos eletrônicos naquele lugar.

- Sr. McCarthy, eu já o anunciei. Queira me acompanhar, por gentileza.

Mark sentiu seu coração disparar, suas mãos estavam frias e suando. Raramente ficava nervoso assim, mas sabia que seus pais precisavam da grana. Seguiu a secretária por um curto corredor impecavelmente branco e esperou que ela abrisse a porta e lhe permitisse a passagem. Teve aquela sensação estranha de que algo importante iria acontecer, de que algo iria mudar em sua vida. O que ele não fazia idéia era que estas mudanças poderiam atingir as vidas de muitas pessoas.

quinta-feira, 25 de março de 2010

III


Mark sabia que a maioria das pessoas acharia o motivo de sua pressa algo completamente ridículo, mas não dava importância a isso. Também achava que os motivos pelos quais a maioria das pessoas se apressavam não passavam de uma grande bobagem. Então, elas que ficassem com os seus motivos que ele ficaria com o seu.

Pegou a chave de casa na mochila, entrou e foi direto para o seu quarto. Por sorte, não encontrou ninguém de sua família para lhe atrasar no percurso. Ligou a TV e sentiu um alívio quase indescritível quando percebeu que o programa ainda não havia começado.

- Mark, é você? _ perguntou sua mãe de algum outro cômodo.

- Sou eu.

- O almoço está no forno... Esquenta no microondas.

- Já comi.

A vinheta do programa aparece na tela e ele sente seu coração disparar. No fundo, não conseguia deixar de achar aquilo ridículo também; de qualquer forma, ridículo ou não, era algo que não conseguia controlar. Tratava-se de um programa de variedades. Quase sempre havia dicas sobre filmes, músicas ou lugares legais para se visitar no primeiro bloco e um entrevistado no segundo. Apenas dois blocos, fato que deixava Mark inconformado. Não que achasse o programa muito interessante; não que achasse que as dicas ou as entrevistas fossem geniais... A única coisa que realmente o interessava, e o interessava de uma maneira nada vulgar, era a apresentadora. Seu nome era Lisa. Não era a clássica bonitona, a la coelhinha da playboy. Era magra, não do tipo esquelética, tinha os cabelos vermelhos cortados à altura do queixo e vestia-se de maneira simples, quase sempre calça jeans e camiseta.

- Mark, algumas pessoas estiveram te procurando... _ disse sua mãe abrindo a porta.

- Agora não, mãe, estou vendo um negócio importante.

- Estavam bem vestidos – prosseguiu ela, ignorando-lhe a advertência -, de terno e gravata.

Mark ligou seu velho vídeo cassete, apertou o REC e foi atrás de sua mãe, que havia se encaminhado à cozinha e lavava algumas louças.

- Já volto, Lisa.

Outra vez sujeitos engravatados... Não fazia idéia do que poderiam querer com ele.

- E então, mãe, o que os caras disseram?

- Disseram que queriam conversar com você. Fiquei preocupada, achei que você tinha aprontado alguma... Mas aí me falaram que era sobre um questionário ou algo assim que você respondeu pela internet. Algo sobre um estágio.

- Questionário... Ah, acho que sei o qual! Mas será?! Aquele negócio me parecia pura charlatanice.

- Eu também quase não acreditei na hora que falaram o salário. Falei que achava que não existia estágio que pagasse isso. Você sabe quanto é?

- Sim, acho que me lembro. Foi só por isso que passei uma meia hora respondendo aquela porcaria. As perguntas eram muito estúpidas.

- Olha só, Mark. Você sabe que as coisas não andam fáceis aqui em casa ultimamente. Essas pessoas que vieram atrás de você disseram que não é nada garantido, que você só foi pré-selecionado. Deixaram esse cartão e disseram que você deve ir nesse lugar amanhã às 15:00 horas para a entrevista. Mas, se realmente der certo, o salário é maior que o do seu pai.

- É, eu sei, mãe, mas não fica me pressionando. Um milhão de pessoas devem ter sido selecionadas pra essa tal entrevista.

- Mark, quantas vezes eu já te falei pra não pensar assim. Você tem que...

- Ser mais otimista, pensar positivo e essa coisa toda – atravessou Mark. – Está bem, mãe. Prometo que eu viro o cara de mais vibrações positivas do mundo; mas, por favor, não vai comentar nada com o pai sobre esse tal estágio antes de ter alguma coisa mais concreta.

Sua mãe sorriu e disse:

- Você não tem jeito mesmo, menino. Tudo bem, pode deixar que não falo nada pro seu pai por enquanto. Agora pega esse pano aqui e vai secando a louça – disse ela atirando o pano de prato em sua direção.

Mark sempre detestou secar a louça. Por que fazer algo que acontece naturalmente? Era isso que sempre pensava. Mas, dessa vez, nem argumentou com sua mãe. A mensagem daquele bilhete não saía de sua cabeça: “Não confie neles”.