- Boa tarde, Sr. McCarthy. Sente-se, por favor.
Sr. Baker tinha olhos acinzentados, um tanto cerrados, que transmitiam um tipo de determinação e indiferença. Não uma indiferença arrogante... apenas um ar meio impessoal, estilo general que não mede esforços para atingir seus objetivos. Mark podia jurar que ele havia sido militar um dia. Tinha os cabelos grisalhos, um pouco mais escuros perto da fronte, e era um tanto corpulento, sem chegar a ser gordo. Seu tom de voz era moderado, sóbrio, mas dava a impressão de que poderia explodir a qualquer momento, se um soldado relaxado não polisse direito os coturnos.
- Boa tarde. Acho que o senhor já deve imaginar, eu vim falar a respeito do estágio.
- Sim, claro – fez uma pausa e sorveu um gole de seu chá. – Tenho uma proposta a lhe fazer, Sr. McCarthy. Seus resultados realmente me surpreenderam. Como sabe, o teste que respondeu pela internet possuía um tempo para ser respondido, e o Sr. foi quem teve o maior número de acertos no menor espaço de tempo. Gostaria que respondesse a um outro teste teórico e também que se submetesse a alguns testes físicos. Caso seja aprovado, o Sr. fará parte da nossa equipe de trabalho como membro efetivo, não como estagiário, e receberá como pagamento um salário cinco vezes maior do que aquele proposto inicialmente. O que me diz?
- Nossa, eu... eu estou um pouco surpreso. Sem dúvida, seria um prazer trabalhar aqui. Poxa, não imaginava que eu tivesse me saído tão bem...
- Meus parabéns, Sr. McCarthy. Sem dúvidas o senhor está acima da média _ disse Sr. Baker, sem apresentar nenhuma leve mudança na expressão.
- Mas o que exatamente eu devo fazer? Eu havia recebido um e-mail falando sobre esta vaga de estágio; mas não consigo recordar como era o nome do cargo...
- Como lhe disse, não se trata mais de um estágio, portanto, o senhor deve desconsiderar algumas coisas. Veja, Sr. McCarthy, aqui, no CPTA, trabalhamos com o desenvolvimento da mais alta tecnologia. Desenvolvemos produtos que somente chegarão ao mercado daqui a décadas, ou que nem mesmo serão comercializados um dia. Ou seja, aquilo que o senhor vir e ouvir aqui não deve ser comentado com ninguém, nem com a sua mãe, seu melhor amigo ou mesmo com o seu cachorro.
- Eu não tenho cachorro.
Por um instante, Sr. Baker fulminou-o com um olhar que pareceu lhe queimar sobre a pele. Mark teve certeza de que seu rosto havia ficado vermelho e se sentiu ainda mais constrangido por isso.
- Desculpe. O senhor pode ficar tranqüilo, eu nem tenho muitos amigos mesmo. De qualquer forma, não sou do tipo que sai por aí falando pelos cotovelos, muito menos a respeito do que não deve ser dito.
- Bem, como eu dizia, o senhor terá que assinar um compromisso de sigilo, dentre outras coisas.
- Sim, claro, sem problema. Perdoe a minha insistência, mas é que fiquei um pouco curioso, qual será mesmo a minha função?
- O senhor será aquilo que chamamos de Agente de Testes. Experimentará algumas tecnologias sob diferentes condições de ambiente... Óbvio que sempre de maneira segura, mas tudo estará explicado com maior riqueza de detalhes no contrato.
- Parece interessante...
Na realidade, a única coisa
- Há algo que desejo lhe mostrar, Sr. McCarthy, para que tenha uma idéia das dimensões de nossos projetos. Depois daremos seqüência à parte burocrática da contratação.
Mark pensou em perguntar se não teria que fazer os outros testes antes de ser contratado; mas achou melhor deixar as coisas como estavam. Quando se dá uma sorte dessas, não se fica fazendo um monte de perguntas. Esse negócio de “Agente de Testes” lhe soou meio estranho, vago demais. Concluiu que devia ser paranóia sua, sempre desconfiava de tudo. Pelo menos uma vez na vida, todos dão sorte, finalmente havia chegado o seu dia.
- Acompanhe-me, por favor.
Sr. Baker seguiu em passos rápidos e ritmados, quase uma marcha cortando o corredor. Mark se esforçava para acompanhá-lo e sentiu-se aliviado quando chegaram ao elevador. Tentou disfarçar sua respiração um pouco ofegante, mas não foi muito bem sucedido.
- E então, Sr. McCarthy, o que senhor faz no momento? Apenas estuda?
- Sim... _ respondeu Mark, entrecortando sua fala para respirar. - ... meus pais sempre acharam.... melhor... que me dedicasse somente aos estudos.
Na verdade, já fazia cerca de um ano que sua mãe o pressionava para arranjar algum trabalho.
- Hum, uma postura muito sóbria da parte deles. De qualquer forma, lhe garanto que sua atividade aqui não o atrapalhará nenhum pouco em seus estudos. Pelo contrário, irá contribuir para o desenvolvimento do seu raciocínio. O Sr. pratica algum esporte, senhor McCarthy?
- Não... - respondeu Mark, um pouco mais recuperado. – Só durante as aulas de Educação Física.
Lembrou que teria que convencer os seus pais a arranjarem um atestado médico para abonar suas faltas
- Creio que precisaremos trabalhar um pouco seu condicionamento físico. Mas, na sua idade, isso é fácil, dentro de alguns meses será praticamente um atleta.
A idéia não agradava Mark nenhum pouco, mas tentava se concentrar no salário, “5 vezes maior do que o proposto no início... 5 vezes!”.
- Isso que vou lhe mostrar, Sr. McCarthy, é algo que pode mudar a História da humanidade, literalmente. No momento, não posso lhe dar detalhes do que se trata, mas faço questão que senhor veja, para que tenha uma vaga idéia da grandiosidade do projeto que, eventualmente, o senhor poderá ter o privilégio de participar. Simplesmente por estarmos aqui, e termos a oportunidade de visualizar algo dessa magnitude, podemos dizer que temos muita sorte... Lembre-se, quando estiver fora daqui, o senhor deve “esquecer” de tudo aquilo que viu. Aliás, mesmo aqui dentro do CPTA, o senhor não deve comentar a respeito de qualquer pesquisa ou experimento a menos que seja com os membros da equipe envolvida e no momento adequado, o senhor me compreende?
- Perfeitamente, Sr. Baker. Como lhe disse, não precisa se preocupar quanto a isso.
Mark detestava que ficassem lhe repetindo a mesma coisa. Não era nenhum idiota, uma vez bastava quando se tratava de algo importante. Achava terrível quando sua mãe ficava lhe recordando a cada cinco minutos de algum compromisso. Como a própria entrevista no CPTA, por exemplo. Ela deve ter lhe falado pelo menos umas dez vezes que ele acabaria se atrasando.
Sr. Baker digitou sua senha num painel que havia ao lado da porta de metal, em seguida, colocou seu polegar direito no leitor óptico. Mark pôde ler a frase “acesso permitido” num pequeno monitor de plasma e então a porta se abriu. Ao invés de dar acesso ao tal experimento revolucionário que Sr. Baker proclamara, viram-se diante de outra porta, idêntica a primeira.
- Segurança é uma de nossas prioridades – disse Sr. Baker enquanto digitava novamente sua senha, no entanto, desta vez, aproximou seu olho direito do leitor óptico para que sua retina fosse reconhecida.
“Esses sujeitos gostam mesmo dessas frescurices tecnológicas estilo serviço secreto. Aposto que investem nisso só para impressionar”, pensou Mark.
- Prepare-se para ver a coisa mais incrível que provavelmente o senhor terá a oportunidade de ver em toda a sua vida, Sr. McCarthy.
A segunda porta se abriu. Mark não tinha idéia do que era aquilo que avistou, mas, sem dúvida, era algo grandioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário