sexta-feira, 30 de abril de 2010

VII


Um pouco tonto, Mark senta-se na cama. Tenta recordar de algo que possa situá-lo, mas parece haver uma grande lacuna em sua memória. Levanta-se e anda em direção à porta. Ao apanhar a maçaneta, um pensamento lhe ocorre gerando algum receio: “E se estiver trancada...”. Destrancada. Mal há tempo para que a tensão seja aliviada e a ansiedade retorna. O que pode haver do outro lado? Evita refletir muito e a abre de uma vez.

Um corredor relativamente estreito com várias portas de ambos os lados. A mesma luz azulada iluminando o ambiente. Mark avança um pouco e três figuras saem de uma das portas. Não consegue vê-las direito, apenas suas silhuetas. Congela. Não sabe se deve retroceder ou caminhar ao seu encontro.

- Está tudo bem. Estamos aqui para ajudar.

Estão cada vez mais perto; se deve fugir, o momento é agora. De qualquer maneira, o que poderia fazer? Poderia voltar para o quarto e trancar a porta. Mas provavelmente deviam ter a chave. Agora estão próximas o suficiente para que Mark possa distingui-las melhor, e aquilo que vê o impressiona. Não sabe se estão envoltas por algum tipo de vestimenta especial ou se possuem uma pele completamente branca semelhante a uma espécie de látex.

- Não se assuste, senhor, estas roupas _ diz aquele que vai mais à frente, prevendo o pensamento de Mark _ são para evitar contaminações. Apenas uma precaução. Para proteger a nós e ao senhor.

- E por que haveria algum risco de contaminação?

- Devido à experiência, senhor, mas, como eu disse, é apenas uma precaução.

- Parem! – disse Mark estendendo as mãos para frente. – Nada disso faz sentido. Que experiência?

- Está tudo bem. É natural que não se recorde. Mas assim que fizermos alguns exames, poderemos explicar melhor as coisas.

Mark recuou um pouco à medida que os sujeitos avançavam.

- OK... está certo – disse baixando os braços. – Pelo jeito, não adianta mesmo tentar resistir.

Quando estavam as uns três passos de distância, partiu correndo, usando a explosão muscular de suas pernas e se chocando contra o indivíduo que vinha ao centro e o que estava a esquerda deste. Após o contato, desequilibrou-se um pouco, mas não chegou a cair; ao contrário dos outros dois que, pegos desprevenidos, tombaram ao chão.

É, enfim as incontáveis horas de condicionamento físico no CPTA haviam se mostrado úteis. Desceu em disparada a escadaria de madeira que dava acesso ao andar debaixo e, para o seu alívio, não encontrou mais ninguém. Ouvia o barulho dos passos apressados pelas escadas atrás de si, mas havia conseguido abrir uma vantagem considerável em relação aos seus perseguidores.

A porta que dava acesso ao jardim estava aberta. Mark não sabia o que poderia esperá-lo do lado de fora, talvez mais sujeitos como aqueles, ou cães, ou muros altos e portões trancados. De qualquer forma, a primeira etapa era deixar o casarão, e isso não parecia difícil. Estava quase alcançando a porta quando tombou desacordado ao chão sem motivo aparente.

sábado, 17 de abril de 2010

VI

- Boa tarde, Sr. McCarthy. Sente-se, por favor.

Sr. Baker tinha olhos acinzentados, um tanto cerrados, que transmitiam um tipo de determinação e indiferença. Não uma indiferença arrogante... apenas um ar meio impessoal, estilo general que não mede esforços para atingir seus objetivos. Mark podia jurar que ele havia sido militar um dia. Tinha os cabelos grisalhos, um pouco mais escuros perto da fronte, e era um tanto corpulento, sem chegar a ser gordo. Seu tom de voz era moderado, sóbrio, mas dava a impressão de que poderia explodir a qualquer momento, se um soldado relaxado não polisse direito os coturnos.

- Boa tarde. Acho que o senhor já deve imaginar, eu vim falar a respeito do estágio.

- Sim, claro – fez uma pausa e sorveu um gole de seu chá. – Tenho uma proposta a lhe fazer, Sr. McCarthy. Seus resultados realmente me surpreenderam. Como sabe, o teste que respondeu pela internet possuía um tempo para ser respondido, e o Sr. foi quem teve o maior número de acertos no menor espaço de tempo. Gostaria que respondesse a um outro teste teórico e também que se submetesse a alguns testes físicos. Caso seja aprovado, o Sr. fará parte da nossa equipe de trabalho como membro efetivo, não como estagiário, e receberá como pagamento um salário cinco vezes maior do que aquele proposto inicialmente. O que me diz?

- Nossa, eu... eu estou um pouco surpreso. Sem dúvida, seria um prazer trabalhar aqui. Poxa, não imaginava que eu tivesse me saído tão bem...

- Meus parabéns, Sr. McCarthy. Sem dúvidas o senhor está acima da média _ disse Sr. Baker, sem apresentar nenhuma leve mudança na expressão.

- Mas o que exatamente eu devo fazer? Eu havia recebido um e-mail falando sobre esta vaga de estágio; mas não consigo recordar como era o nome do cargo...

- Como lhe disse, não se trata mais de um estágio, portanto, o senhor deve desconsiderar algumas coisas. Veja, Sr. McCarthy, aqui, no CPTA, trabalhamos com o desenvolvimento da mais alta tecnologia. Desenvolvemos produtos que somente chegarão ao mercado daqui a décadas, ou que nem mesmo serão comercializados um dia. Ou seja, aquilo que o senhor vir e ouvir aqui não deve ser comentado com ninguém, nem com a sua mãe, seu melhor amigo ou mesmo com o seu cachorro.

- Eu não tenho cachorro.

Por um instante, Sr. Baker fulminou-o com um olhar que pareceu lhe queimar sobre a pele. Mark teve certeza de que seu rosto havia ficado vermelho e se sentiu ainda mais constrangido por isso.

- Desculpe. O senhor pode ficar tranqüilo, eu nem tenho muitos amigos mesmo. De qualquer forma, não sou do tipo que sai por aí falando pelos cotovelos, muito menos a respeito do que não deve ser dito.

- Bem, como eu dizia, o senhor terá que assinar um compromisso de sigilo, dentre outras coisas.

- Sim, claro, sem problema. Perdoe a minha insistência, mas é que fiquei um pouco curioso, qual será mesmo a minha função?

- O senhor será aquilo que chamamos de Agente de Testes. Experimentará algumas tecnologias sob diferentes condições de ambiente... Óbvio que sempre de maneira segura, mas tudo estará explicado com maior riqueza de detalhes no contrato.

- Parece interessante...

Na realidade, a única coisa em que Mark conseguia pensar era naquilo que o Sr. Baker havia dito antes “um salário cinco vezes maior do que o proposto inicialmente”.

- Há algo que desejo lhe mostrar, Sr. McCarthy, para que tenha uma idéia das dimensões de nossos projetos. Depois daremos seqüência à parte burocrática da contratação.

Mark pensou em perguntar se não teria que fazer os outros testes antes de ser contratado; mas achou melhor deixar as coisas como estavam. Quando se dá uma sorte dessas, não se fica fazendo um monte de perguntas. Esse negócio de “Agente de Testes” lhe soou meio estranho, vago demais. Concluiu que devia ser paranóia sua, sempre desconfiava de tudo. Pelo menos uma vez na vida, todos dão sorte, finalmente havia chegado o seu dia.

- Acompanhe-me, por favor.

Sr. Baker seguiu em passos rápidos e ritmados, quase uma marcha cortando o corredor. Mark se esforçava para acompanhá-lo e sentiu-se aliviado quando chegaram ao elevador. Tentou disfarçar sua respiração um pouco ofegante, mas não foi muito bem sucedido.

- E então, Sr. McCarthy, o que senhor faz no momento? Apenas estuda?

- Sim... _ respondeu Mark, entrecortando sua fala para respirar. - ... meus pais sempre acharam.... melhor... que me dedicasse somente aos estudos.

Na verdade, já fazia cerca de um ano que sua mãe o pressionava para arranjar algum trabalho.

- Hum, uma postura muito sóbria da parte deles. De qualquer forma, lhe garanto que sua atividade aqui não o atrapalhará nenhum pouco em seus estudos. Pelo contrário, irá contribuir para o desenvolvimento do seu raciocínio. O Sr. pratica algum esporte, senhor McCarthy?

- Não... - respondeu Mark, um pouco mais recuperado. – Só durante as aulas de Educação Física.

Lembrou que teria que convencer os seus pais a arranjarem um atestado médico para abonar suas faltas em Educação Física, já devia fazer um mês que não assistia a uma aula sequer e, quando assistia, geralmente ficava jogando tênis de mesa com Derick. O sacana tinha um saque difícil de se pegar, mas não agüentava muito tempo trocando bola. O que fazia dele um adversário realmente difícil é que sempre roubava na hora de marcar os pontos. De qualquer forma, Mark preferia aceitar suas trapaças do que ficar meia hora discutindo.

- Creio que precisaremos trabalhar um pouco seu condicionamento físico. Mas, na sua idade, isso é fácil, dentro de alguns meses será praticamente um atleta.

A idéia não agradava Mark nenhum pouco, mas tentava se concentrar no salário, “5 vezes maior do que o proposto no início... 5 vezes!”.

- Isso que vou lhe mostrar, Sr. McCarthy, é algo que pode mudar a História da humanidade, literalmente. No momento, não posso lhe dar detalhes do que se trata, mas faço questão que senhor veja, para que tenha uma vaga idéia da grandiosidade do projeto que, eventualmente, o senhor poderá ter o privilégio de participar. Simplesmente por estarmos aqui, e termos a oportunidade de visualizar algo dessa magnitude, podemos dizer que temos muita sorte... Lembre-se, quando estiver fora daqui, o senhor deve “esquecer” de tudo aquilo que viu. Aliás, mesmo aqui dentro do CPTA, o senhor não deve comentar a respeito de qualquer pesquisa ou experimento a menos que seja com os membros da equipe envolvida e no momento adequado, o senhor me compreende?

- Perfeitamente, Sr. Baker. Como lhe disse, não precisa se preocupar quanto a isso.

Mark detestava que ficassem lhe repetindo a mesma coisa. Não era nenhum idiota, uma vez bastava quando se tratava de algo importante. Achava terrível quando sua mãe ficava lhe recordando a cada cinco minutos de algum compromisso. Como a própria entrevista no CPTA, por exemplo. Ela deve ter lhe falado pelo menos umas dez vezes que ele acabaria se atrasando.

Sr. Baker digitou sua senha num painel que havia ao lado da porta de metal, em seguida, colocou seu polegar direito no leitor óptico. Mark pôde ler a frase “acesso permitido” num pequeno monitor de plasma e então a porta se abriu. Ao invés de dar acesso ao tal experimento revolucionário que Sr. Baker proclamara, viram-se diante de outra porta, idêntica a primeira.

- Segurança é uma de nossas prioridades – disse Sr. Baker enquanto digitava novamente sua senha, no entanto, desta vez, aproximou seu olho direito do leitor óptico para que sua retina fosse reconhecida.

“Esses sujeitos gostam mesmo dessas frescurices tecnológicas estilo serviço secreto. Aposto que investem nisso só para impressionar”, pensou Mark.

- Prepare-se para ver a coisa mais incrível que provavelmente o senhor terá a oportunidade de ver em toda a sua vida, Sr. McCarthy.

A segunda porta se abriu. Mark não tinha idéia do que era aquilo que avistou, mas, sem dúvida, era algo grandioso.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

V


Mark acorda aos poucos. Já despertou do sono, mas deixa-se deitado na mesma posição por mais um tempo. Vira-se de lado e abraça um dos travesseiros. De repente, ocorre-lhe se não estaria atrasado para a aula. Reflete melhor e conclui que, se o despertador não tocou e sua mãe não lhe chamou, era porque deveria ser final de semana. Abre os olhos, deixa-os abertos por alguns segundos e torna a fechá-los. Suas pálpebras parecem pesadas e é muito agradável ceder a tal peso.

Há tanto conforto em ficar daquele jeito que poderia deixar-se assim para sempre. Abre os olhos novamente, mas, desta vez, algo faz com que o sono seja afastado de maneira brusca. Não reconheceu o quarto em que estava. Definitivamente não era o seu. Aquelas dimensões... a altura do teto... aquilo mais parecia um salão.

Afastou os lençóis e levantou-se. Uma fraca luz ambiente, ligeiramente azulada, emanava de lâmpadas incrustadas no teto. Notou alguns móveis espalhados pela peça, mas não lhes dedicou muita atenção. A prioridade era se localizar, saber que lugar era aquele afinal de contas. Uma nova surpresa. Pensou em abrir as cortinas para olhar para fora, mas, bastou que pensasse em abri-las para que se abrissem sozinhas, como num passe de mágicas. Formulou mentalmente as seguintes questões de maneira concisa: “O que está acontecendo? Que lugar é este?”. E, de maneira aparentemente inexplicável, as respostas surgiram em sua cabeça: “Não há dados”; “Você está na residência ALX – 3759; cidade Alfa Maior”.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

IV

Três dias depois, Mark foi convocado, através de uma ligação telefônica, a uma entrevista no CPTA (Centro de Pesquisas Tecnológicas Avançadas), que ficava do outro lado da cidade. Provavelmente, seria o momento de decidir se ficaria com a vaga do estágio ou não. Era uma pequena viagem. Teria que apanhar três metrôs e andar mais uns dois quilômetros a pé. Mas o salário valia o custo-benefício. Bem, na realidade, se seus pais não estivessem passando por uma crise financeira, nem teria procurado porcaria de estágio nenhum. Ficaria o dia todo praticando com sua guitarra e tentando compor algo que prestasse. Tarefa que não achava das mais fáceis, tendo em vista que não conseguia gostar de suas composições por muito tempo. Como nem sempre se pode fazer aquilo que se quer (alguns diriam: “como geralmente não se pode fazer aquilo que se quer”), Mark se certificou de que a bateria de seu mp3 estava carregada e partiu rumo a tal entrevista, com ânimo de quem torce pra que algum meteoro, de proporções consideráveis, aponte no horizonte.

O prédio era realmente impressionante. Consideravelmente alto e, sem dúvida, havia sido projetado para passar uma idéia de modernidade. A construção era espiralada, como se tentasse imitar filetes de DNA, inteira revestida por aço e vidro reluzentes, que davam a impressão de terem sido recém polidos. Pelo jardim, viam-se dispostas algumas reproduções de modelos atômicos, desde os clássicos até os mais atuais. Mark deu uma rápida olhada neles, sempre achou legais esses sistemas orbitais. Mas estava um pouco cansado e imaginar as conversas que, em breve, teria que travar, inibia um pouco sua curiosidade.

Subiu uma meia dúzia de degraus e um sensor fez com que a porta de vidros abrisse para a sua entrada. Avistou uma secretária olhando compenetrada para a tela de seu computador. Cabelo preso, óculos, uniforme impecável... Puxa, não sabia ao certo por que, mas as secretárias o deprimiam.

- Em que posso ajudá-lo?

- Oi, meu nome é Mark McCarthy. Eu vim pra uma entrevista, ou algo assim.

- Ah, claro. Sr. McCarthy, o Sr. Baker, diretor do Departamento de Pesquisas Subatômicas, está a sua espera. Basta o senhor seguir reto e apanhar o elevador. A sala dele fica no 5º andar. Assim que o senhor desembarcar, já encontrará a secretária, basta dizer quem é o senhor que o diretor logo o atenderá.

- Han... OK, obrigado.

Mark se sentiu completamente perdido. Sempre achou que soava estranho quando o chamavam de “senhor”, mas o que o deixou realmente intrigado foi aquela história de que o diretor estava a sua espera. Concluiu que deveria ser maneira de dizer, vários candidatos deveriam ter sido pré-selecionados pra tal entrevista.

Um sujeito uniformizado o cumprimenta e aperta o botão para o elevador descer. Mark se pergunta se o trabalho dele é só fazer isso o dia todo. Pensa que um trabalho assim até pode ser legal por um tempo, mas que depois você deve morrer de tédio e preferir qualquer coisa a ficar apertando uma porcaria de botão e cumprimentando todo o tipo de idiota forçando um sorriso simpático.

O elevador chega, Mark entra e um outro sujeito o cumprimenta, com o mesmo uniforme e o mesmo sorriso. Quase um Déjà vu. Pergunta-se quanto aqueles sujeitos devem ganhar para exercer um trabalho desses. Pergunta-se se seria capaz de manter um sorriso idiota por um salário razoável. Conclui que dependeria do quanto estivesse precisando da grana. Conclui que tudo depende da necessidade.

- O 5, por favor.

O sujeito aperta o botão e puxa um assunto por conveniência:

- Que tal este clima... Ontem tive que sair de casa encasacado; hoje estou derretendo. Eu te digo, antigamente não era assim. Não mesmo.

- É, deve ser este negócio de aquecimento global...

Mark não acreditou que tinha dito aquilo. Sentiu-se deprimido por ter feito aquele comentário. E, de repente, sentiu raiva daquele sujeito por tê-lo induzido àquele tipo de diálogo idiota.

- Por isso te digo, ainda compro meu rancho e vou viver criando trutas.

O elevador pára, a porta se abre e Mark sente uma indescritível sensação de alívio. Salta fora sem mesmo se despedir. Não queria ser antipático, afinal, era só um pobre coitado que precisava falar de seus planos, que, muito provavelmente, nunca se concretizariam, mas a sensação que tinha era de que morreria asfixiado se ficasse mais um segundo naquele elevador.

Hora de falar com a secretária. Mark estava começando a se arrepender de ter ido ali. Detestava diálogos burocráticos e formais. De uma coisa não tinha dúvidas, desceria pelas escadas.

- Boa tarde, em que posso ajudá-lo?

- Boa tarde. Eu preciso falar com o Sr. Baker, a respeito de uma entrevista. Acho que se trata de um estágio ou algo assim.

- Estágio?! Desculpe, mas o Sr. deve ter se confundido. Para falar sobre estágios o Sr. deve se dirigir ao R. H., no térreo.

- Então, no térreo uma moça me disse que eu deveria vir aqui.

- Hum... estranho... qual o seu nome?

- Mark... Mark McCarthy.

- Ah, claro, Sr. McCarthy. Por favor, sente-se numa dessas poltronas. O Sr. Baker logo o atenderá.

Mark estava se sentindo cada vez mais confuso com aquele tratamento, parecia até que ele era um “figurão”, destes que nem sabe mais quanta grana tem no banco, e que todo mundo fica puxando o saco o tempo todo, trazendo bandejas com bebidas geladas e tira-gostos.

Preferiu nem pensar mais sobre isso. Talvez fosse apenas impressão sua, era melhor esperar para ver o que aconteceria na entrevista. Deu uma breve olhada nas revistas que estavam dispostas sobre a mesa de centro. Alguns periódicos científicos; duas ou três revistas do ramo administrativo; mais umas duas revistas de fofoca sobre a vida dos famosos e uma de moda feminina. Achou aquilo uma porcaria, era frustrante não poder nem ler algo para passar o tempo, mas concluiu que a escolha daquele material não deveria ser à toa. As pessoas que provavelmente se sentavam onde ele estava deveriam ser, em sua maioria, cientistas que procuravam o Sr. Baker para discutir algum tema, projeto ou coisa que o valha; magnatas (querendo bancar os inteligentes, ou altruístas ou sabe-se lá o quê) dispostos a custear algum projeto; e, por fim, as mulheres destes magnatas. Mark sorriu, definitivamente nunca encontraria uma revista sobre rock ou jogos eletrônicos naquele lugar.

- Sr. McCarthy, eu já o anunciei. Queira me acompanhar, por gentileza.

Mark sentiu seu coração disparar, suas mãos estavam frias e suando. Raramente ficava nervoso assim, mas sabia que seus pais precisavam da grana. Seguiu a secretária por um curto corredor impecavelmente branco e esperou que ela abrisse a porta e lhe permitisse a passagem. Teve aquela sensação estranha de que algo importante iria acontecer, de que algo iria mudar em sua vida. O que ele não fazia idéia era que estas mudanças poderiam atingir as vidas de muitas pessoas.