quinta-feira, 18 de março de 2010

II


Todos sabem que um tipo de paranóia paira nos grandes centros urbanos. As pessoas estão sempre desconfiadas, sempre alertas, segurando firme suas pastas e bolsas. Ao mesmo tempo, tentam fingir que não estão nem aí para o que está se passando a sua volta.

Mark, apesar de surpreso, não conseguiu deixar de achar engraçado o fato de que a senhora que lhe entregou um bilhete dizendo Não confie neles, de certa forma, havia o alertado para não confiar na mensagem. “Que porcaria de mensagem – pensou Mark. – Não confiar em quem, nas empresas de fast food? – ironizou consigo mesmo”.

O sujeito que havia mandado a mensagem lhe fez um sinal afirmativo com a cabeça, deixou a mesa em que estava sentado e foi embora. Mark não conseguia simplesmente ignorar ou encarar com naturalidade o fato de um estranho estar o seguindo e lhe mandando mensagens que não faziam sentido. De qualquer forma, o painel eletrônico da lanchonete estava mostrando o número de sua senha repetidas vezes, e a melhor alternativa no momento parecia ser pegar seu lanche e comer. E foi exatamente o que fez. Sentiu um pouco de sede e foi até o bebedouro tomar alguns goles de água. Voltou até a sua cadeira apenas para ficar sentado, sem fazer nada, enquanto a digestão se encaminhava. Gostava de momentos como aquele, barriga cheia, ouvindo música, sem nenhum trabalho do colégio para lhe incomodar ou mesmo sem ter que pagar alguma conta qualquer para seus pais...

Então seu celular vibra em seu bolso e ele recorda de uma triste verdade, os momentos de sossego absoluto não costumam durar muito tempo. Deixa-o vibrar por mais alguns instantes até finalmente tomar coragem de retornar à chata realidade de interações e compromissos. Quando apanha o telefone, sua surpresa é ainda maior. Não era uma chamada... era um lembrete. Como pôde se esquecer disso! Bem, era justamente para essa possibilidade que havia programado o lembrete... mas, até então, nem por um dia havia se esquecido. Seu único compromisso que considerava inadiável, e que cumpria com prazer. Não havia tempo para lamentar, faltava apenas meia hora e não tinha dinheiro para o metrô. Ou seja, precisava correr.

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