Mark sabia que a maioria das pessoas acharia o motivo de sua pressa algo completamente ridículo, mas não dava importância a isso. Também achava que os motivos pelos quais a maioria das pessoas se apressavam não passavam de uma grande bobagem. Então, elas que ficassem com os seus motivos que ele ficaria com o seu.
Pegou a chave de casa na mochila, entrou e foi direto para o seu quarto. Por sorte, não encontrou ninguém de sua família para lhe atrasar no percurso. Ligou a TV e sentiu um alívio quase indescritível quando percebeu que o programa ainda não havia começado.
- Mark, é você? _ perguntou sua mãe de algum outro cômodo.
- Sou eu.
- O almoço está no forno... Esquenta no microondas.
- Já comi.
A vinheta do programa aparece na tela e ele sente seu coração disparar. No fundo, não conseguia deixar de achar aquilo ridículo também; de qualquer forma, ridículo ou não, era algo que não conseguia controlar. Tratava-se de um programa de variedades. Quase sempre havia dicas sobre filmes, músicas ou lugares legais para se visitar no primeiro bloco e um entrevistado no segundo. Apenas dois blocos, fato que deixava Mark inconformado. Não que achasse o programa muito interessante; não que achasse que as dicas ou as entrevistas fossem geniais... A única coisa que realmente o interessava, e o interessava de uma maneira nada vulgar, era a apresentadora. Seu nome era Lisa. Não era a clássica bonitona, a la coelhinha da playboy. Era magra, não do tipo esquelética, tinha os cabelos vermelhos cortados à altura do queixo e vestia-se de maneira simples, quase sempre calça jeans e camiseta.
- Mark, algumas pessoas estiveram te procurando... _ disse sua mãe abrindo a porta.
- Agora não, mãe, estou vendo um negócio importante.
- Estavam bem vestidos – prosseguiu ela, ignorando-lhe a advertência -, de terno e gravata.
Mark ligou seu velho vídeo cassete, apertou o REC e foi atrás de sua mãe, que havia se encaminhado à cozinha e lavava algumas louças.
- Já volto, Lisa.
Outra vez sujeitos engravatados... Não fazia idéia do que poderiam querer com ele.
- E então, mãe, o que os caras disseram?
- Disseram que queriam conversar com você. Fiquei preocupada, achei que você tinha aprontado alguma... Mas aí me falaram que era sobre um questionário ou algo assim que você respondeu pela internet. Algo sobre um estágio.
- Questionário... Ah, acho que sei o qual! Mas será?! Aquele negócio me parecia pura charlatanice.
- Eu também quase não acreditei na hora que falaram o salário. Falei que achava que não existia estágio que pagasse isso. Você sabe quanto é?
- Sim, acho que me lembro. Foi só por isso que passei uma meia hora respondendo aquela porcaria. As perguntas eram muito estúpidas.
- Olha só, Mark. Você sabe que as coisas não andam fáceis aqui em casa ultimamente. Essas pessoas que vieram atrás de você disseram que não é nada garantido, que você só foi pré-selecionado. Deixaram esse cartão e disseram que você deve ir nesse lugar amanhã às 15:00 horas para a entrevista. Mas, se realmente der certo, o salário é maior que o do seu pai.
- É, eu sei, mãe, mas não fica me pressionando. Um milhão de pessoas devem ter sido selecionadas pra essa tal entrevista.
- Mark, quantas vezes eu já te falei pra não pensar assim. Você tem que...
- Ser mais otimista, pensar positivo e essa coisa toda – atravessou Mark. – Está bem, mãe. Prometo que eu viro o cara de mais vibrações positivas do mundo; mas, por favor, não vai comentar nada com o pai sobre esse tal estágio antes de ter alguma coisa mais concreta.
Sua mãe sorriu e disse:
- Você não tem jeito mesmo, menino. Tudo bem, pode deixar que não falo nada pro seu pai por enquanto. Agora pega esse pano aqui e vai secando a louça – disse ela atirando o pano de prato em sua direção.
Mark sempre detestou secar a louça. Por que fazer algo que acontece naturalmente? Era isso que sempre pensava. Mas, dessa vez, nem argumentou com sua mãe. A mensagem daquele bilhete não saía de sua cabeça: “Não confie neles”.